A Literatura Infantil possibilita às
crianças uma leitura em vários níveis: o sensorial, através dos aspectos
exteriores do livro; o emocional, pelos sentimentos que a leitura provoca e o
racional, pela reflexão a que conduz e pela construção do conhecimento.
Segundo Zilberman (2003, p.29), "A Literatura Infantil é levada a
realizar sua função formadora, que não se confunde com uma função pedagógica.
Ela dá conta de uma tarefa que está voltada toda a cultura de conhecimento do
mundo e do ser”.
Ao ouvir histórias, as crianças pequenas iniciam o processo da
construção da linguagem, idéias, valores e sentimentos, ajudando-as na sua
formação como pessoa.
Nesta perspectiva,
aponta Abramovick (2004, p.17):
As histórias infantis
representam importantes formas de expressão, além de contribuir na construção
do desenvolvimento moral, ajudando-a a criança a conhecer o mundo e tomarem
consciência dos seus próprios valores.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN de Língua
Portuguesa (2001, v.2): “A leitura de histórias é um momento em que a criança
pode conhecer a forma de viver, pensar, agir e o universo de valores, costumes
e comportamentos de outras culturas situadas em outros tempos e lugares que não
o seu”.
É fundamental que, ao contar uma história,
o educador crie condições para que as crianças progridam na construção do
raciocínio moral, da coordenação dos diferentes pontos de vista e do pensamento
lógico, podendo valer-se da Literatura Infantil para desencadear discussões nas
quais as crianças poderão rever suas opiniões e defender a sua perspectiva.
Existem três grandes níveis e estágios
apresentados por Kohlberg (apud VINHA 2003), que abordam os juízos morais das
crianças. É preciso que o educador tenha conhecimento sobre eles para que o mesmo
possa compreender o desenvolvimento das crianças. Os níveis são: o
pré-convencional (I), o convencional (II) e o pós-convencional (III),
subdivididos em dois estágios cada um. As principais características destes
níveis serão apresentadas a seguir:
O nível 1 – pré-convencional (estágios 1
e 2) é mais individualista. Pode-se dizer que as crianças que se encontram no
primeiro estágio não reconhecem que os interesses dos outros podem ser
diferentes dos dela. Ao julgar uma ação, considera os efeitos concretos,
físicos, não levando em conta as intenções envolvidas. No segundo estágio, as
crianças já são capazes de reconhecer que os outros têm interesses diferentes,
julgando o que é certo como algo relativo.
O nível 2 - convencional (estágios 3 e 4)
se caracteriza por ser mais social. No terceiro estágio as crianças passam a
considerar, ao agir, as expectativas das pessoas que lhe são significativas, ou
seja, sua conduta é pautada naquilo que espera que essas pessoas julguem
correto, o que esperam dela. Agem no sentido de obter aprovação, estando
preocupadas em serem uma “boa menina” ou um “bom menino”. O “certo” é ser uma
boa pessoa aos próprios olhos e aos dos demais. Já no estágio 4, “o certo” é
definido por cumprir as leis sociais, seguir os deveres e manter a ordem. Todos
devem se submeter às leis para que haja o bem comum, pois as normas foram
feitas para serem cumpridas e garantir o bem-estar da maioria. É importante que
não haja exceções. O indivíduo justifica o comportamento considerado como
correto pela necessidade de manter a instituição em seu conjunto e evitar a
decomposição do sistema
No nível 3 – pós-convencional (estágios 5
e 6) de Kohlberg, o sujeito considera a
humanidade em geral. O raciocínio do quinto estágio resume-se basicamente
naquilo que foi contratado entre as pessoas, um acordo coletivo. E, finalmente,
no sexto estágio se constrói o compromisso pessoal e o indivíduo. Neste nível
apresenta consciência moral coerente com princípios éticos universais. (VINHA,
2003)
É fundamental que o alvo maior da escola
seja sempre o aluno, promovendo um atendimento valioso para cada um, além de um
olhar “clínico” para as suas necessidades e possibilidades, principalmente na
Educação Infantil, que é o foco deste trabalho, proporcionando situações que
garantam o desenvolvimento da criança em todos os aspectos, inclusive os
morais.
De acordo com Kramer (2000) a pré-escola
é um lugar que propicia o desenvolvimento infantil, visto que valoriza o
conhecimento das crianças pequenas, a construção da autonomia, cooperação,
criticidade, responsabilidade e favorece o auto conceito e o exercício da
cidadania.
O individuo se desenvolve a partir de sua
interação com o ambiente, portanto é preciso que o educador e a escola se
insiram para promover o desenvolvimento moral e o crescimento humano em direção
à autonomia, pois é nessa primeira fase escolar que a criança necessita de uma
aprendizagem de qualidade, conscientizando-a da importância e da necessidade de
preservar valores como o respeito ao ser humano.
De acordo com Vinha (2006), a moralidade
na criança vai se desenvolvendo aos poucos, a partir da sua interação com o
meio. Dessa maneira, julga-se importante que o educador propicie momentos em
que a criança exponha suas ideias, a fim de desencadear reflexões e discussões
com o grupo, contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento do raciocínio
moral.
Sendo as histórias infantis um recurso
fundamental, é importante que, quando utilizadas, problematizem as situações do
cotidiano da sala de aula, a fim de permitir que a criança aprenda sobre os
valores morais que precisam ser alicerçados neste período, o que compromete
todo o desempenho social da criança. O professor ainda pode se valer de outros
instrumentos como contos e dilemas morais para desencadear discussões, gerar
conflitos e agir como elemento desiquilibrador, fazendo com que a criança
reveja sua opinião e defenda sua perspectiva, a fim de que a mesma progrida de
um estágio para o outro, caminhando para a autonomia.
Segundo Vinha (2006, p.496), Kohlberg
considera que “uma das formas de propiciar o desenvolvimento moral nas pessoas
é confrontá-las com outras que estejam em estágios mais avançados de raciocínio
moral, utilizando do processo de debater as histórias infantis que envolvam
conflitos, as situações-problema ou os dilemas morais”.
A escola, querendo ou não, está envolvida
com a educação moral de seus alunos e influencia o desenvolvimento dos mesmos,
desde modo, é importante e necessário que a escola e o professor estejam
atentos e preocupados com esta questão, a fim de que se crie e se estabeleça na
escola um ambiente em que relações interpessoais respeitosas aconteçam de
maneira a garantir que a autonomia moral e cognitiva das crianças seja
construída e desenvolvida.
Observa-se
o que defende Piaget (apud VINHA, 2003), “A educação moral supõe que a criança
possa fazer experiências morais e a escola constitui um meio propício para tais
experiências”. De uma maneira simples, a escola com o auxílio da Literatura
pode contribuir, e muito, na formação plena do ser.
Para evidenciar a importância da
Literatura Infantil para o desenvolvimento moral, observa-se o que Oliveira
(1994) apresenta em sua pesquisa Literatura Infantil e desenvolvimento moral: a
construção da noção de justiça em crianças pré-escolares. A autora realizou sua
pesquisa com 14 alunos e o instrumento de trabalho foi a fábula “A galinha
ruiva”, destacando a noção de justiça. Ao término de sua pesquisa, a autora
concluiu que embora não tenha atingido um progresso no nível de noção de
justiça, isso não significa que não houve uma evolução qualitativa no sentido
de refletir e de verbalizar os juízos morais. A autora ainda relata a
importância da Literatura Infantil como uma ação pedagógica voltada para a
educação de valores e, entretanto fundamental para desencadear o
desenvolvimento da moralidade infantil em crianças pequenas.
Pesquisas como de Oliveira (1994)
reforçam a ideia de que os educadores precisam estar mais preparados para
realizar um trabalho favorável por meio das histórias infantis.
Por fim, a Literatura Infantil é um
recurso pedagógico que pode favorecer o desenvolvimento infantil e propiciar a
conquista de estágios mais avançados do juízo e da ação moral.
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